2006-09-07

o "nosso Mestre" João Santos

Fazendo uma pesquisa sobre a obra do "Ti João"descobri um artigo, publicado no jornal "o Alcoa", em 1 de Abril de 1993, pelo dr Jorge Pereira Sampaio.

Este artigo fazia parte de Breves apontamentos sobre a História da Faiança Regional de Alcobaça.

Achei importante partilhá-lo convosco, até porque, era no meio de todos vós que ele gostava de estar.

Assim, vou colocar aqui o artigo na íntegra:

MESTRE JOÃO SANTOS

João Fernando dos Santos nasceu em Alcobaça em 1936.

Desde muito cedo nele se manifestaram aptidões para as artes plásticas.

Recomendado pelo professor Elias Cravo, ingressou na “Raul da Bernarda” ao treze anos, como pintor-aprendiz.

Um ano depois, passa para a recém-fundada fábrica de Armindo de almeida ribeiro.

Com dezanove anos, João santos casa-se e, nesse mesmo ano, entra como pintor cerâmico na “Vestal”.

Nessa empresa ficou durante vinte e dois anos.

Depois, transita para a fábrica de António Campos Libório.

Pouco tempo depois saiu de lá para a “Aljubal”, onde pintou peças ao sabor da louça italiana.

Com o tempo, o artista foi-se cansando e desiludindo do caminho então levado pela Faiança Regional de Alcobaça.

Entretanto verifica a aptidão de seus filhos para a pintura e modelagem e abre então o seu próprio atelier, em 1976.

Em 1979, fez uma exposição em Leiria. Num folheto de apresentação da mostra, dizia Carlos Eugénio sobre João santos: “As suas peças – moldadas, pintadas e ornamentadas por si – vieram a revalorizar-se com as suas formas tradicionais revestidas de cores harmoniosas e de atributos pitorescos, às vezes imbuídos de um certo barroquismo, num artesanato brilhante e especifico – que vem abrindo caminho aos coleccionadores e a permanecer em arte – natureza, uma reflexidade surpreendente de intuição sensível, relacionada com caudal de persistente trabalho, digno de ser evidenciado”.

Em 1982, foi premiado pelo Banco pinto e Sotto Mayor na “Ceramex”.

Esse prémio de design foi-lhe atribuído para uma saca saloia de retalhos, feita em cerâmica.

Também na FIL, na “Ceramex” de 1991, o jornal “A Capital” falava do êxito de vendas obtido por João Santos, logo no primeiro dia de feira.

Com a abertura do centro comercial Gafa, abriu também o seu primeiro salão de exposições.

Em 1992, mudou-se para a Rua Miguel Bombarda (ao lado da redacção de “O Alcoa”.

Uma visita ao seu atelier surpreende-nos pela variedade de peças, todas da sua lavra – desde jarras e potes lembrando a louça regional de Alcobaça até interessantes esculturas de vários géneros; desde painéis de azulejos de aspecto bem português até aguarelas cheias de cor e irreverência.

Dedica-se assim ao artesanato, moldando e pintando as suas peças.

Embora com alguma tendência para um certo barroquismo também a abstracção está presente nas suas obras.

Faz também retratos a óleo e a carvão.

De todo o seu acervo, ressalta uma curiosa “roda da vida#, finalmente modelada e em que são representadas, num grande circulo de barro, as várias fases de uma vida humana desde a sua concepção até à aprendizagem da adolescência; no centro, o amor, rodeado de anjos, simbolizando a pureza.

A área em que se movimenta é, assim, vasta porque é grande a sua criação – varia porque criar é, para si, uma aventura. João Santos é um artista de que Alcobaça se deve orgulhar.

*

Chegam ao fim estes artigos sobre faiança feita em Alcobaça. Tentou-se apresentar uma rectrospectiva do que se produziu nesta região desde José dos Reis, em 1875.

Alcobaça afirma-se hoje como um dos mais importantes centros de indústria cerâmica do país. Impossível seria dar noticia do que se faz em centenas de fábricas deste concelho.

Assim, dos novos tempos, apresentamos algumas, poucas, tentando seguir um critério de qualidade.

Estamos certos que terminar este ciclo de artigos com o trabalho de João Santos é “fechar com chave de ouro”.

2 comentários:

Anónimo disse...

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ANTONIO DELGADO disse...

Era amigo do João Santos desde o tempo que ele vivia em Mendaldo. Convivemos e falávamos frequentemente de arte dos seus sonhos, porque acima de tudo João Santos era um homem sonhador. Daqueles para quem a vida era sempre fantasia e reinvenção. Tinha um mundo muito próprio, rico de metáforas e falava dele sempre cheio de ilusões mas sem nunca perder a noção da realidade. Dava gosto ouvi-lo e o tempo não existia quando se privava com ele. Em paralelo, era um homem, cheio de humor e amor pela vida. Trabalhador e empreendedor como poucos, pratico, realista e idealista mas igualmente humilde, como as pessoas de bem. Tinha sempre uma palavra de afecto, para com todos aqueles que o procuravam, sem perder o sentido prático da vida. Pai extremoso, orgulhava-se de ver que na sua prole, existiam em boas doses, os seus genes artísticos. Tanto o seu filho Luis, como a Leonor (ambos meus amigo) tinham excelentes talentos. Leonor como cantora, chegou a ganhar o primeiro prémio no mais importante festival de fado em Lisboa. E o Luis, cursou escultura, na faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde ainda coincidimos algum tempo. Posteriormente, ausentei-me para fora do país e durante anos o meu contacto, tanto com o Luis como com Pai foi reduzido até que recentemente soube da triste perda do João. Como amigo cabe-me destacar, o João Santos, como um homem muito singular, um excelente artesão, sem dúvida o maior valor da região nesta actividade. Considero que a sua obra deveria de ser estimada, preservada e estudada, até porque, muitas das suas peças eram genuínas, possuindo a indelével marca da originalidade. Não quero escrever uma elegia, mas apenas o deixar no blog da Lúcia, o único da net que dedica atenção ao João Santos, uma saudade para relembrar a perda de um amigo que partiu e recordar o homem singular e humanista que sempre foi, possuidor de uma qualidade que distingue que determinados mortais sejam menos mortais que outros é que é a SOLIDARIEDADE ...até sempre João!

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